quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Papa Bento 16 deixa o seu cargo

À frente de um pontificado que será lembrado popularmente pelos escândalos de pedofilia e de corrupção, Bento 16 , prestes a ser o primeiro "papa emérito" em quase seis séculos , pode ser considerado, segundo especialistas ouvidos pelo iG , como um "pontífice de transição" por ser o primeiro a atuar em um mundo completamente globalizado. Durante seus oito anos de papado (2005-2013), Bento 16 se concentrou na retomada do aspecto mais primitivo e ortodoxo do catolicismo, na rediscussão da transmissão da fé e nos esforços, embora criticáveis, de tornar o Vaticano mais transparente.

Durante seu período à frente do comando da Igreja, Bento 16 se preocupou, assim como seu antecessor, em fazer uma revisão crítica das interpretações do Concílio Vaticano 2º. Convocado no início dos anos 60, o concílio tinha como principal objetivo debater o lugar da Igreja Católica no mundo contemporâneo. Enquanto os tradicionalistas acreditavam que a Igreja era uma instituição superior aos homens e que, portanto, não deveria ser rediscutida, os progressistas pontuavam que o concílio representava uma ruptura total com o conservadorismo e uma guinada liberal. Ao contrário dessas duas visões, Bento 16 e João Paulo 2º (1978-2005) enxergavam o concílio como um chamado à renovação por meio da tradição católica.

Segundo o professor Francisco Borba, coordenador do núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, diante de uma Igreja presa a normas, burocracias, aparências e esclerosada internamente, Bento 16 se ocupou da recuperação mística da experiência cristã, ou seja, do retorno ao elemento fundamental do catolicismo - o encontro com Jesus Cristo. Para o sociólogo, o papa sublinhou esse aspecto de maneira bem-sucedida e conseguiu convencer os integrantes dos movimentos de dentro da Igreja, das organizações eclesiásticas e das cúrias de que era necessário que a Igreja voltasse seu olhar a esse princípio mais ortodoxo.


Apesar de não poder se considerado um papa que realizou mudanças profundas na Igreja Católica, Bento 16 pode ser visto como um pontífice que fez uma transição de um ciclo para outro na história da Santa Sé. Segundo Borba, ele pode ser apontado como o último papa de uma Igreja que ainda presta contas ao Concílio Vaticano 2º, que se ocupa de sua revisão, mas, ao mesmo tempo, o primeiro papa do mundo globalizado e tecnológico.


Outra marca deixada por seu pontificado é a preocupação em como transmitir a fé nesta era globalizada. De acordo com o padre Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP, Bento 16 foi o primeiro pontífice a perceber que a Igreja no Ocidente não podia mais contar com a evangelização pela cultura, que não é mais hegemonicamente católica, nem pela instituição familiar, que passou por mudanças nos últimos anos. Dessa forma, ele pôs em pauta a discussão sobre uma nova forma de evangelização promovendo, por exemplo, o Ano da Fé, que tem como proposta discutir o catolicismo, e convococando em 2012 um encontro com bispos que participaram do Concílio Vaticano 2º.


Dentro da temática de promoção da fé católica, Bento 16 preocupou-se com a "qualidade" do fiel. Não que a quantidade de católicos não seja um dado preocupante: a Europa, principalmente, vive um forte processo de secularização, e apenas 25% dos católicos do mundo estão no continente, enquanto a América Latina - que abriga 40% dos católicos - apresenta um avanço das igrejas protestantes e pentecostais.

IG

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